quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Faz hoje 30 anos que José Afonso - para muitos, o eterno Zeca - nos deixou, vítima de esclerose lateral amiotrófica.

Hoje, tendo por base, a efeméride dos 30 anos da morte de José Afonso, a rádio TSF lançou o seu habitual fórum com a seguinte pergunta:

- Ainda há causas capazes de nos mobilizar?


Grande parte dos problemas de hoje é que quem nos dirige, conseguiu encontrar a fórmula correta para evitar grandes manifestações. Aconchegaram-nos a vida ao pescoço e temos medo de nos destaparmos, para não perdermos este cobertor curto e roído que tanto nos conforma no dia à dia.

É por esta falsa sensação de bem-estar, que deixamos passar à frente dos nossos olhos, os dramas do quotidiano que seriam sempre grandes causas por nos batermos, em qualquer época da Humanidade.


E é assim que já não ligamos à morte em bruto de crianças em África, desnutridas, doentes e assoladas por uma violência megera, nem ligamos à contínua morte de refugiados no Mediterrâneo, fugindo de um inferno, para morrerem no inferno das portas do paraíso. Já achamos normal que os sistemas políticos estejam viciados e que desconfiemos de todos os seus interventores, que não vislumbremos a manipulação global que acontece de há anos a esta parte, e que nos conduz a uma situação como a que vivemos nos dias de hoje, com homens ambíguos como os presidentes dos EUA, da Rússia, da Coreia e dos neo-aspirantes que aguardam serenamente a sua entrada em cena.

Perdemos a capacidade de mobilização!

Para reunirmos umas centenas de milhares de manifestantes, é normal termos de organizar um festival musical, para dar suporte ao protesto!

É cada vez mais difícil a mobilização. E o problema começa logo pelo movimento mais puro do sufragismo democrático que é, votar! 

Estamos a deixar de votar. E este é um dos grandes problemas. Os mais novos ficaram sem memória sobre os tempos em que nos era vedada a possibilidade de votar. Esqueceram todos os que deram a vida, para que o direito ao voto pudesse ser uma realidade. Não têm qualquer memória do tempo em que a democracia era uma ténue e difusa luz para muitos resistentes.

Hoje, a luta é mais difícil. Mas se o combate é hoje, contra algo que não tem rosto, mais cuidado e atenção teremos de possuir, para estar atento.

Não basta um clique numa qualquer rede social para mostrar a nossa posição. É necessário sair à rua e mostrar de que lado estamos, independentemente do número de "likes" que constam no nosso mural.

Termino com uma citação de Thoreau, também referida no fórum da TSF:

"Quando descobri que o máximo que me podiam fazer era prender meu corpo, percebi a extensão da minha liberdade"
(Henry David Thoreau)


Participação revolucionária no sofá da sala, frente ao computador? É algo que, juro, não percebo!!!



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